Bebês Reborn: Briquedos ou espelhos das emoções ?
A Febre dos Bebês Reborn: Colecionar Bonecos é um Sintoma de Ausência?
Ultimamente uma tendência peculiar tem ganhado espaço no Brasil e no mundo: adultos colecionando e cuidando de bebês reborn – bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos. Muitos donos dessas peças não apenas as exibem em prateleiras, mas também as vestem, levam para passear e tratam como se fossem crianças de verdade.
Do ponto de vista psicológico contemporâneo, esse comportamento não é necessariamente patológico. Afinal, colecionar objetos que trazem conforto emocional é uma prática comum na história humana – seja através de pelúcias, figuras de ação, ou itens nostálgicos. No entanto, quando o apego a um objeto inanimado se torna uma espécie de substituto relacional, vale a pena refletir: será que essa prática não esconde uma ausência não resolvida?
O Reborn como Superfície de Projeções Afetivas
A psicologia explica que humanos têm a tendência de atribuir emoções a objetos – é o que acontece com pelúcias que ganham nomes ou carros que são tratados como “parte da família”. No caso dos reborns, essa projeção pode assumir camadas mais profundas, especialmente quando:
– Há um luto não resolvido (como a perda de um filho ou a impossibilidade de conceber);
– Existe uma solidão não confrontada (idosos, pais de filhos já adultos, pessoas que sentem falta de cuidar);
– Falta um sentido de propósito (o ato de “maternar” ou “paternar” preenche um vazio existencial).
Nesses casos, o boneco deixa de ser um objeto e vira um recipiente de emoções – um lugar seguro onde afetos não vividos podem, finalmente, ser expressos.
Quando o Inofensivo Pode Ser um Sinal?
A linha entre hobby e compensação emocional excessiva é tênue. Se o boneco deixa de ser um item de coleção e vira um objeto de substituição vital – a ponto de prejudicar interações sociais ou mascarar uma depressão –, então pode ser um mecanismo de defesa contra dores não enfrentadas.
O ato de “maternar” ou “paternar” um reborn não é problemático por si só, mas se torna digno de atenção quando:
- Substitui completamente interações humanas (a pessoa prefere o boneco a convívios reais);
- É usado para evitar enfrentar dores passadas (como uma forma de negação de uma perda);
- Cria uma realidade paralela que interfere no dia a dia* (ex.: gastos excessivos, isolamento social).
Um Sintoma da Sociedade Contemporânea?
Vivemos tempos de relações líquidas, onde o afeto muitas vezes parece insuficiente ou falho. Os reborns, em sua popularidade, podem ser menos sobre os bonecos em si e mais sobre o que desejamos, mas não temos: amor incondicional, um vínculo que não decepcione, a chance de recomeçar.
Eles nos lembram que, mesmo na idade adulta, ainda carregamos desejos profundos de cuidado e pertencimento – e que, às vezes, é mais fácil depositá-los em algo que não nos julgará ou abandonará.
Se esse hobby traz conforto sem prejuízos, não há motivo para patologizá-lo. Mas se for uma muleta para evitar enfrentar dores mais profundas, talvez valha a pena olhar para o que está por trás do instinto de colecionar – e cuidar – de um bebê que nunca crescerá.
E você, o que acha dessa tendência? Já conheceu alguém que tenha um reborn como parte importante da vida? Comente abaixo!